..

BLOGS PARCEIROS: PORTAL DO CAMALEAO

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

MOTORISTA de W.Dias deu nova versão para os R$ 180 mil IMPRENSA TEVE CHANCE DE QUESTIONAR, mas as dúvidas sobre o caso só aumentaram

O motorista do candidato ao governo do estado Wellington Dias (PT), José Martinho, que é lotado no gabinete do senador, é um homem corajoso. Ele apresentou uma nova versão para a origem dos R$ 180 mil. E ela agora sustenta que a quantia é fruto da venda da sua distribuidora de bebidas localizada em Samambaia, cidade satélite de Brasília, chamada “Distribuidora Martins”. Dessa forma, segundo ele, o dinheiro não mais teria vindo só da venda de cervejas, carvão e aluguéis de mesas e churrasqueiras, como havia dito.
Até esta quarta-feira (24), isso nunca tinha sido ventilado, mesmo depois de exatos 13 dias do fatídico 11 de setembro do PT, quando o carro do funcionário do candidato petista foi apreendido no município de Barreiras, na Bahia, portando R$ 180 mil de origem ainda desconhecida. A ideia das entrevistas gravadas concedidas às TV’s Meio Norte e Cidade Verde eram por um fim no assunto, e separar a imagem de Wellington Dias do caso. As entrevistas foram combinadas. Mas tiveram um efeito contrário. Reacenderam o assunto.
Um fato que chama atenção é que até semana passada - portanto, depois da apreensão do veículo com dinheiro -, quando o 180 entrou em contato com a distribuidora, uma atendente disse que não podia falar nada sobre o caso, confirmou que a distribuidora era de Martinho, e se irritou quando indagada qual o nome da empresa. “Você num é jornalista? Você já sabe. Para que você pergunta?”, confrontou.
A conversa foi publicada numa matéria do 180 no dia 17, seis dias após o 11 de setembro, quando se tentava falar com José Martinho. Os termos do diálogo foram descritos na matéria - “Exclusivo: Primo do senador W. Dias diz que está ‘tranquilíssimo’ em casa” - da seguinte forma:
“EU NÃO VOU FALAR NADA SOBRE ISSO”
A busca por Martinho começou com uma ligação para a distribuidora que ele disse ser sócio - e que depois mudou para “cotista”. O telefone tocou, foi atendido com o termo “distribuidora”, mas a pessoa do outro lado, uma mulher, disse que não iria falar nada sobre o assunto. "Eu não vou falar nada sobre isso”, sustentou.
“E qual o nome da distribuidora dele?”. “Você é jornalista. Você sabe. Para que você pergunta? É Distribuidora Martins”, falou mesmo assim. “E ele está em Brasília ou no Piauí? Como faço para falar com ele?” A interlocutora, que não quis dizer o nome, desligou o telefone e não atendeu a mais nenhuma ligação.
José Martinho teria, segundo o senador, provado origem do dinheiroJosé Martinho teria, segundo o senador, provado origem do dinheiro
Mas até nisso a defesa de Martinho pensou. Disse que ele só iria sair da distribuidora depois que a segunda quantia paga na venda fosse desembolsada, dia 29 de novembro, noventa dias após o que seria a primeira parcela, os R$ 180 mil.
No dia anterior a essa publicação do dia 17 de setembro, Martinho foi contactado por telefone pelo 180. Na conversa gravada ele não falou sobre essa versão que agora é apresentada. Disse somente que o assunto “era com os advogados”, e que estavam “trabalhando para isso”, explicar a origem do dinheiro. Acrescentou ainda que até o final desta semana tudo seria esclarecido, na visão dele. Mas ainda não foi, como quer fazer crer.
Os R$ 180 mil continuam depositados em uma conta da Caixa Econômica Federal no município de Barreiras à disposição da Justiça. Essas entrevistas de José Martinho foram somente uma forma de arrefecer o desgaste na imagem do candidato Wellington Dias. E tem uma função política.
ENTÃO A DISTRIBUIDORA FOI VENDIDA?
Assim que o dinheiro foi encontrado em Barreiras, José Martinho falou que os R$ 180 mil eram dele, fruto de sua labuta diária num comércio que vende cerveja, carvão, aluga mesas e churrasqueiras para festinhas. Ele usou até o site Capital Teresina, que adota uma linha editorial passiva em relação ao caso, para dizer que comprovaria a origem do dinheiro, que viria de vendas ocorridas nas dependências de sua distribuidora. E segundo Martinho, ela faturava R$ 200 mil por mês. Nada de venda do ponto em si, ou da “loja”, como ele fala, foi mencionado.
Dentro da Distribuidora é possível ver estacionado um veículo semelhante ao Pálio apreendido pela PRF na BahiaDentro da Distribuidora é possível ver estacionado um veículo semelhante ao Pálio apreendido pela PRF na Bahia
180, no entanto, mostrou a distribuidora de Martins, e questionou se aquele estabelecimento comercial realmente faturava aquilo tudo, bastando para comprovar somente apresentar a movimentação bancária, balanços e os impostos recolhidos ao erário. A história de José Martinho não colou e teve que ser recontada.
E nessa nova versão surge que então o motorista do candidato petista vendeu a distribuidora que até semana passada ainda não tinha sido vendida. Recebeu, segundo ele, parte em dinheiro e o restante em cheque e que há documento para comprovar tudo isso. O valor ainda a receber não foi informado, muito menos os cheques foram apresentados até o momento.
DISSE NÃO LEMBRAR QUEM HAVIA LHE DADO O DINHEIRO
O servidor do Senado, ainda quando em Barreiras, disse ao delegado do Complexo Policial do município, Francisco de Sá - antes de prestar seu depoimento oficial, no qual se reservou ao direito de ficar calado -, que não se lembrava de quem lhe dera o dinheiro, e se recusou a responder a um grupo de sete questionamentos feitos pelo delegado perante o escrivão, quando já acompanhado por advogado. Foi Francisco de Sá quem repassou essa informação ao 180, que esteve em Barreiras logo após o ocorrido.
Entre os questionamentos a que José Martinho não quis responder à Polícia estava “o que tem o interrogado a alegar em sua defesa das acusações que lhe pesam de estar transportando em seu veículo, a quantia de R$ 180.000,00 em espécie?” E, “para onde o interrogado estava levando o citado dinheiro e para quem seria entregue?”. Ambos os questionamentos não encontraram eco no motorista de Wellington Dias, a não ser o silêncio. O silêncio, no entanto, nem sempre é significado de salvo conduto, embora seja um direito constitucional.
PERGUNTAS FEITAS A JOSÉ MARTINHO SÃO TAPAS NA OPINIÃO PÚBLICA
Bons jornalistas sabem que numa oportunidade como aquela em Brasília, e levando em conta a relevância do caso, a entrevista a ser usada é a de confronto, onde se busca as contradições, e não reafirmar a estória do entrevistado. Mas foi essa última conduta que foi levada em consideração. José Martinho não aceitaria falar com duas TV’s no mesmo dia - numa espécie inédita de ‘exclusiva sucessiva’, onde primeiro fala com uma TV para não ter erro e depois fala com outra -, se as perguntas não fossem adocicadas.
Pela manhã e durante todo o dia de ontem, José Martinho recebeu ligações do 180, mas quando percebeu que era um jornalista diferente daqueles que foram lá na ‘paz e no amor’, desligou a ligação e não atendeu mais a nenhuma das dezenas de chamadas. O PT usou daquilo que procura evitar, a imprensa.
E usou a imprensa para limpar sua barra. Mas usou a imprensa que o PT queria ver imperando no país. A que não questiona e que aceita tudo sem desconfiar. Mesmo assim, José Martinho disse que não iria mostrar o contrato de compra e venda por “envolver terceiros”. A expectativa é que as TV’s mostrem alguns documentos nos programas que vão logo mais ao ar, no mesmo horário em que foram exibidas as entrevistas na última quarta-feira.
Uma das entrevistas, a veiculada pela Cidade Verde, apelou para a emoção do telespectador. Algo fofo de assistir. “Qual o pedido que você faz hoje para a população, para as pessoas, para a imprensa, e para aqueles que hoje falam do senhor como uma pessoa ligada ou que estava transportando dinheiro para campanha?”, perguntou o repórter, enquanto a câmera fechava em José Martinho. “Eu não tenho nem pedido para fazer. Primeiro a gente tem que agradecer muito a Deus. A imagem que a gente fica da imprensa é de muitas coisas negativas que as pessoas colocam, que publicam, coisas que não tem nada a ver”, responde Martinho.
A entrevista confete segue com uma outra pergunta melosa. “Isso é o que tem contrariado você?” “Bastante. Me contraria bastante”, reponde o motorista de Wellington Dias. “A sua família, a sua esposa, seus filhos (...) o quanto eles estão sofrendo nesta história?”, volta a perguntar o jornalista, levantando a bola para mais uma vez Martinho matar no peito e responder: “bastante”. Essa entrevista foi realizada em um escritório em Brasília, segundo o repórter Joelson Giordane, e não em Samambaia, onde está localizada a loja que supostamente foi vendida. No mesmo local a Meio Norte o entrevistou.
O repórter da Cidade Verde foi contactado pelo 180 durante a tarde e disse que estava correndo atrás de documentos que comprovariam a venda. A ele foi informado o endereço da loja de Martinho, em Samambaia, como sugestão para que ele fosse filmar o lugar e colher mais informações. A TV Cidade Verde deve exibir nesta quinta-feira matéria com alguns dos supostos documentos comprobatórios. O mesmo deve fazer a Meio Norte. No início da noite desta quarta-feira (24), Ananias Ribeiro já estaria de posse da papelada, algumas daquelas que José Martinho se recusava a mostrar por “envolver terceiros”.
JORNALISTAS DEVEM SER PAGOS PARA DESCONFIAR
A entrevista exibida na Meio Norte também é uma ‘primazia’, e revela tudo aquilo que um jornalista não deve fazer. As perguntas não questionavam, mas praticamente afirmavam, para que José Martinho só completasse com um “sim”, um “com certeza”, ou coisa do tipo. Nesta o servidor do Senado aparece mascando chiclete e desvia o olhar, que ora vai para cima, ora para seu lado esquerdo e para baixo.
A entrevista começa de uma forma que dê chances ao motorista de Wellington de justificar que teve condições de angariar o dinheiro encontrado com ele. É, na verdade, um histórico da sua vida em Brasília, onde diz que chegou em 1988 e daí segue numa linha do tempo, com direito a contar o seu passado ainda no século anterior.
Em um momento da entrevista - que deixaria até Hebe Camargo se revirando no túmulo, porque até ela era implacável com políticos, embora fosse querida pela classe artística por conta das abordagens àqueles a quem entrevistava -, Martinho disse que preferiu levar o dinheiro debaixo do banco traseiro do carro a retirá-lo no banco, porque no município piauiense de São Miguel do Fidalgo, onde segundo ele, compraria uma propriedade, “não iria conseguir sacar com facilidade esse valor, entendeu?”.
É fato então que o mesmo homem que se cobriu de cuidados para receber o dinheiro em Brasília, pestanejou quando decidiu passar por municípios perigosos do estado da Bahia, como Riachão das Neves e Formosa do Rio Preto, em seu trajeto de Brasília tendo como suposto destino final um município do interior do Piauí.
José Martinho, conforme sugerem os lacres que envolviam os maços, recebeu os valores retirados de uma agência do Bradesco localizada em Brasília. Esse valor, por sua vez, foi transportado pela PROSEGUR, que oferece entre outros serviços, a logística de valores e tem atuação internacional, além de todo o Brasil.
DINHEIRO.JPG
“O RAPAZ QUE ESTAVA DIRIGINDO”
O jovem preso Paulo Fernando de Souza, a quem José Martinho faz referência durante entrevista à TV Meio Norte, como “o rapaz que estava dirigindo, que teve problema com a habilitação”, é ex-funcionário de Martinho, mora em uma cidade do entorno de Brasília, e estava desempregado. Foi chamado para a ‘missão’, mas foi esquecido na delegacia de Barreiras preso, e só foi solto depois de pagar uma fiança de R$ 7,5 mil. Ele a imprensa não procurou ... ainda.
Não se pode esquecer que ao sair de Barreiras, alguém abordou profissionais do 180relatando que Paulo, que está em liberdade provisória, “sabia de tudo que ocorreu”. Há uma terceira pessoa que também saberia da verdade. Essa, no entanto, pediu dinheiro para “contar tudo”.
MARTINHO FALA ATÉ EM MIGRAÇÃO
Em sua empreitada na televisão, Martinho não deixou de relatar um dos maiores problemas existentes no Piauí, a saída de pessoas para ganhar a vida fora do estado, por falta de condições em sua terra natal, mesmo depois de oito anos de governo do PT, capitaneado por seu patrão.
“Sempre a gente que é piauiense, que sai do nosso estado, apesar de nosso estado ser meio pobre, (...) não incentiva muito a gente voltar, mas é o sonho de todo nordestino voltar à sua terra natal”, disse, para justificar a suposta venda de sua propriedade em Brasília tendo como objetivo comprar outra no Piauí.
O motorista de Wellington Dias também fala que sempre que vendeu seus porcos e bodes transportava os valores em dinheiro vivo. E é por isso que agora ele quer reparar sua imagem.
“Então o que o senhor quer agora é que seja feita Justiça?”, pergunta o repórter Ananias Ribeiro, num daqueles questionamentos com respostas certas. “Com certeza”, diz Martinho, quase que mecanicamente.
Todos os contribuintes, senhor Martinho. Todos os contribuintes querem Justiça. Não à toa a Polícia Federal, onde já se encontra o inquérito, recebeu do Ministério Público Federal a incumbência de investigar a real origem do dinheiro e esclarecer todo esse fatídico acontecimento.
ÁGUA COM AÇÚCAR
Mas José Martinho é um homem de sorte, não aparece para ser questionado, e quando tem quem o faça, não o fazem bem feito. É, Martinho, só faltou mesmo perguntarem ao senhor “e como vai o coração?”, indagação típica de colunistas sociais.
De qualquer forma, o que se espera agora é a apresentação dos documentos para toda a imprensa, porque as informações serão minuciosamente verificadas, confrontadas e comparadas.
Repórter: Rômulo Rocha

Nenhum comentário:

Postar um comentário

nos não nos responsabilizamos pelos seus comentarios

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

postagens recentes

24 : horas no ar