"O
jumento sempre foi o maior desenvolvimentista do sertão”, já dizia Luiz
Gonzaga ao levantar campanha de valorização do fiel ajudante do povo
nordestino. No entanto, nem mesmo Gonzaga poderia imaginar que chegaria o
dia em que jumento seria sinônimo de “desperdício de espaço”. Tudo isso
por ter sido gradativamente destronado do posto de meio de transporte
oficial do sertão e pela a falta de atrativos comerciais para a
utilização da espécie.
A
situação problemática do jumento, com crescente número de abandono e de
apreensões pelos estados, culminou no surgimento de uma parceria
inusitada entre Brasil e China: o jumento nordestino pode virar item de
exportação para a indústria alimentícia chinesa. A parceria entre os
países foi firmada mês passado e prevê a venda de 300 mil espécies por
ano.
Ativistas
dos direitos dos animais denunciam que, além do consumo da carne, os
animais também podem ser utilizados em laboratórios da indústria de
cosméticos. A União Internacional Protetora dos Animais (Uipa) iniciou a
campanha “O jumento é nosso”, para impedir a concretização do acordo.
Segundo Geuza Leitão, presidente da Uipa no Ceará, a iniciativa pretende
conscientizar a população e pressionar os políticos, evitando assim a
aprovação do acordo no Congresso Nacional. “Não é só matança para
consumo. Eles querem fazer experiências para a indústria de cosméticos”,
denuncia Leitão.
Conforme
o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), existem mais de 194 mil jumentos no Ceará. Deste número, somente
cerca de 50 mil estão localizados em propriedades de criação de
animais, segundo o cadastro da Agência de Defesa Agropecuária do Estado
do Ceará (Adagri), que rastreia a presença de animais para o controle de
zoonose.
De
acordo com Antônio Nunes, da Secretaria do Desenvolvimento Agrário do
Estado, no Ceará os jumentos são utilizados para o transporte de carga
ou como reprodutores em cruzamento com éguas. Conforme Nunes, por não
terem valor comercial, diversos jumentos são abandonados por seus
antigos donos. “Com isso, acabam causando problemas nas estradas e
gerando despesas para o Estado”, afirma Nunes. Nos últimos dois anos,
aconteceram 231 acidentes envolvendo animais em rodovias estaduais,
segundo informações da Polícia Rodoviária Estadual (PRE).
Os
jumentos abandonados são recolhidos pelo Departamento Estadual de
Trânsito (Detran-CE), segundo Valdir Chaves, responsável pelas
apreensões de animais. Ele conta que os jumentos são levados para um dos
13 currais do Detran espalhados pelo Ceará. Segundo Chaves, o
proprietário tem o período de sete dias para fazer a reclamação de
posse. Caso isso não ocorra, o animal é transferido para a Fazenda Paula
Rodrigues, em Santa Quitéria. O local é mantido pelo Governo do Estado.
Aline Moura
Diversos
jumentos são abandonados no Nordeste. A superpopulação vem trazendo
transtornos para os estados, que recolhem os animais das estradas. A
população chinesa é consumidora de carne de jumento, que atraiu o
governo chinês a fazer acordo com o Brasil.
Confronto das ideias
Você é a favor da exportação de jumentos nordestinos para a China?
SIM
Utilidade
Os
animais estão sendo abandonados, com fome e sede. Não existe mais
nenhum valor financeiro nem afetivo. Talvez essa exportação possa
valorizar comercialmente o jumento. Deve despertar o interesse dos
grandes criadores. Não vejo problema no consumo da carne de jumento.
Cada povo tem sua cultura. Que eles sirvam ao menos para alimentar uma
grande população. Mas deve haver cautela para que não haja extinção da
espécie. Tem que ter responsabilidade para preservar.
Marilac Alencar, professora de Medicina Veterinária da Uece
NÃO
Absurdo
Eu
acho um absurdo a exportação de jumentos. Durante a produção do
documentário, coletamos dados sobre a situação no Ceará. Não encontrei
ninguém que queira a morte do animal, que é muito ligado à história do
Ceará. Os chineses tem que resolver entre eles. Existe uma relação
diferente com animal aqui no Nordeste. A solução seria fazer apreender o
jumento das estradas e a castração dos animais. Quanto aos acidentes, a
responsabilidade é do dono.
Eduardo Aparício, produtor do documentário “Jus”
De O Povo
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