Há dez anos a empresa de cartões de crédito Credishop S.A. recebe
isenção fiscal da Prefeitura de Teresina para não pagar Imposto Sobre
Serviços (ISS) em um de seus escritórios. Porém, o seu principal
escritório, que não tem incentivo fiscal, deixou de recolher mais de R$
11 milhões aos cofres do município de Teresina, além de descumprir
acordos com a própria Prefeitura.
Ano passado, a empresa passou por uma fiscalização da Secretaria
Municipal de Finanças por auditores que possuem autonomia. Depois de
serem analisados os documentos contábeis da empresa, a fiscalização
municipal apontou diversas irregularidades que estariam ocorrendo, tais
como: falta de informações sobre as operações, falta de recolhimento de
ISS, uso indevido de uma Inscrição Municipal que acabou deixando de
recolher mais de R$ 11 milhões, além de ausência de notas fiscais em
suas atividades.
A empresa possui duas inscrições municipais. Segundo o relatório da fiscalização que o 180graus
teve acesso, a Credishop se aproveitou da isenção fiscal concedida (na
administração de Firmino Filho) a um de seus escritórios, localizado no
bairro Tabuleta, zona sul de Teresina e acabou deixando de recolher o
ISS do seu principal endereço, localizado no Teresina Shopping até o ano
passado. O endereço agora fica na avenida Frei Serafim.
A lei de isenção fiscal concedida à empresa vence em agosto deste ano.
Quando conseguiu o benefício em agosto de 2002, a empresa se comprometeu
a manter todas as informações e relatórios sobre suas operações.
Segundo o relatório, não foi isso que a fiscalização encontrou. 'O
contribuinte foi notificado para apresentar documentos contábeis e/ou
fiscais que permitam a apuração da receita. Não foram apresentados esses
documentos, apenas relatórios gerenciais. Tal fato comprova que o
contribuinte descumpre com o que determina o artigo 2º do Decreto 5.273
de 01 de agosto de 2002 (incentivo fiscal)', diz o Termo de
Fiscalização.
CASO DECIDIDO POR CONSELHEIROS
O processo cobrando a Credishop está tramitando na Prefeitura de
Teresina, no Conselho de Contribuintes (Conted), formado por técnicos,
empresários e membros políticos. O 180graus entrou em
contato com especialistas em Direito Tributário para entender o poder do
Conted. A informação é de que o órgão que analisa os recursos das
empresas de forma técnica, mas sofre pressão política para reduzir esse
valor cobrado pela auditoria da SEMF. Na Secretaria de Finanças do
Município, ninguém quer falar sobre o assunto. A informação é de que
'trata-se de uma fiscalização sigilosa' e que a SEMF está tomando todas
as providências previstas em lei.
INCENTIVO ERA DA ÉPOCA DE FIRMINO
A Prefeitura de Teresina informou através de sua assessoria de
comunicação que 'o incentivo foi concedido à empresa há dez anos, na
gestão do ex-prefeito Firmino Filho e que, para a renovação do
incentivo, é necessário que a empresa faça solicitação e apresente
documentos'. Segundo a Prefeitura, a Credishop ainda não fez esse
pedido. Os nomes dos membros que fazem parte do Conselho de
Contribuintes que vai decidir sobre a cobrança, ou não, dos R$ 11
milhões supostamente sonegados pela Credishop, ainda não foram
informados pela Prefeitura de Teresina. A Prefeitura também nega que
haja qualquer tipo do privilégio para a e empresa e que os incentivos
fiscais são concedidos como forma de estimular a geração de emprego e
renda em Teresina.
DIREÇÃO DA CREDISHOP NÃO FALA DO CASO
A reportagem fez contato com a empresa dar a versão da empresa sobre o
assunto, mas até o fechamento da matéria não houve respostas. Durante
muito tempo a empresa fez parte do Grupo Claudino, que possui ligações
políticas com o atual prefeito, Elmano Férrer (PTB). O filho do
prefeito trabalha na empresa desde a época em que Elmano era Secretário
de Trabalho. Procurada várias vezes, a empresa que tem como presidente o
empresário Valdecy Claudino (irmão do seu João Claudino) não quis se
pronunciar sobre a fiscalização, nem sobre a parceria com a Prefeitura
de Teresina. Nos últimos anos a empresa teve lucro líquido de R$ 10,6
milhões (2009) e R$ 12,2 milhões (2010).
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